quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Centenário de Josué de Castro

Dia 5 de Setembro, lembrando de Josué de Castro

É no dia 5 de Setembro de 2008 que o Conselho Municipal de Segurança Alimentar de Juiz de Fora gostaria de lembrar do centenário de Josué de Castro, patrono do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do Brasil – quem foi este homem?
A fome é a principal face da insegurança alimentar. Há cerca de cinqüenta anos ela é discutida como um fenômeno social e político, no Brasil. O primeiro brasileiro a analisar a fome sob este aspecto foi Josué Apolônio de Castro, nascido em 5.09.1908 em Recife, também conhecido como o homem que “destampou a panela da miséria”. Formou-se médico e no seu primeiro emprego em uma firma em Recife apontou que a doença dos trabalhadores era a fome – foi demitido e se deu conta de que o problema era social e político. A partir deste momento tornou-se membro de várias comissões e organizações que trabalhavam o problema da fome tanto no Brasil como no exterior. Foi presidente da FAO (Conselho da Organização para Alimentação Agricultura e Nutrição das Nações Unidas) de 1952 até 1956 e eleito deputado federal pelo estado de Pernambuco em 1955 e em 1959. De 1962 até 1964 foi embaixador do Brasil junto aos Órgãos das Nações Unidas em Genebra. Foi premiado por várias organizações internacionais tornando-se referência mundial no estudo do problema da fome em suas mais amplas facetas. Foi também sociólogo, antropólogo, nutrólogo, geógrafo e filósofo. Entre muitas de suas obras literárias destacam-se a “Geografia da Fome” e a “Geopolítica da Fome”, ambas traduzidas para vários idiomas e conhecidas no mundo inteiro. No livro “Geografia da Fome”, revela a problemática da escassez de alimentos, não só em quantidade, mas também em qualidade, o que ele denomina como fome oculta, dizendo:” Mais grave ainda que a fome aguda e total, devido às suas repercussões sociais e econômicas, é o fenômeno da fome crônica ou parcial, que corrói silenciosamente inúmeras populações do mundo”.
Em 1964, aos 56 anos de idade, teve seus direitos políticos cassados e exilou-se na França, onde faleceu de saudade do Brasil em 1973. Com sua afirmação: “Enquanto metade da humanidade não dorme porque não come, a outra metade não dorme, com medo da que não come........” teve assim uma visão muito profética do que viria a acontecer com o mundo.
A vida de Josué de Castro foi uma grande lição de engajamento em sua própria realidade, sua própria cultura. Procurou desenvolver toda uma ciência, a partir de um fenômeno que é a manifestação do subdesenvolvimento em sua mais dura expressão: a fome. Tentou criar outra teoria explicativa para a triste realidade do subdesenvolvimento, da pobreza e da miséria. Tentou modificar a história de seu país e foi banido por isto, como tantos outros pensadores brasileiros que ousaram desvelar as causas da miséria em um país tão rico e tão desigual. É este homem que o Brasil de hoje precisa deixar de ignorar.
“De início, a fome provoca uma excitação nervosa anormal, uma extrema irritabilidade e principalmente, uma grande exaltação dos sentidos. Nesta desintegração do eu, desaparecem as atividades de auto-proteção, de controle mental e dá-se, finalmente, a perda dos escrúpulos e das inibições da ordem moral.” (Josué de Castro)
Com cerca de 100.00 habitantes do Município de Juiz de Fora vivendo em situação de insegurança alimentar não seria o momento de discutir mais profundamente o tema de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável, junto com os problemas da área da saúde, segurança pública e educação? Melhorando o acesso e propondo ações para a garantia da alimentação adequada, alcançamos com certeza a melhora em todas as outras áreas.

O COMSEA-JF tem amplo material sobre a vida e obra de Josué de Castro, filme documentário e material didático produzido pelo “projeto memória” da Fundação Banco do Brasil.

Para saber mais sobre Josué de Castro e a missão do COMSEA, entre em contato comsea@pjf.mg.gov.br e acesse http://www.josuedecastro.com.br e http://www.consea.mg.gov.br.

Bettina Koyro – COMSEA-JF
Clério Koyro – Conselheiro Estadual – CONSEA/MG e COMSEA/JF

Um comentário:

Lucas disse...

"Oh Josué eu nunca ví tamanha desgraça:
Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça."

Chico Science