terça-feira, 29 de julho de 2008

O pé manco da sustentabilidade

por Katerina Volcov

Em dia internacional – festivo ou não – do meio ambiente fala-se muito da Amazônia, das energias renováveis, da preservação da fauna e flora mundiais, dos números do desmatamento, dos países que não assinaram o Protocolo de Kyoto. Mas a principal pergunta é: o que vamos fazer a partir de agora?

Um dos temas discutidos amplamente, é a tal “sustentabilidade” , para os mais íntimos do assunto, é o sistema baseado no tripé: viabilidade econômica, justiça social e preservação ambiental, ou “como fazer para transformar o modelo social em que vivemos para que se torne economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto”.

Nestas últimas semanas, o presidente Lula esteve à frente da defesa do etanol brasileiro, apresentando argumentos para demosntrar que ele não tem relação com a crise mundial dos alimentos. E que é um biocombustível sustentável à medida que é renovável tendo um custo menor de produção do que as plataformas petrolíferas.

Sim, ele tem razão em boa parte do que diz, e não me cabe discutir essas questões aqui. O ponto que realmente me preocupa, e que me parece mais grave, é a insustentável maneira de se produzir e levar o etanol ao mercado estrangeiro, às custas da exploração de um trabalho quase-escravo nas lavouras de cana. Ou seja, nada justo, portanto, nada sustentável, considerando a base do tripé da sustentabilidade.

Segundo dados do relatório da Comissão Pastoral da Terra, o número de trabalhadores explorados subiu de 6930 em 2006 para 8635 no ano seguinte, sendo a região sudeste a que obteve maior expressão nesse acréscimo. Coincidência ou não, é nessa área que estão concentradas as lavouras de cana-de-açúcar.

As péssimas condições de trabalho dos cortadores de cana já foram relatadas inúmeras vezes pela mídia no passado. Hoje, porém, parece que o lado ambiental tem se sobreposto ao social e qualquer ação em prol do meio ambiente é ovacionada sem levar em conta, muitas vezes, o bem-estar social.

Vale a pena recordar que, para que possamos ter realmente um produto sustentável é essencial que as três bases – humana, econômica e ambiental - estejam em equilíbrio e harmonia. Isso quer dizer que o lado humano precisa ser suprido em todas as suas necessidades primárias, o meio ambiente deve ser respeitado e é claro que é essencial sua viabilidade econômica.

É óbvio que, medidas de proteção à Amazônia devem ser observadas e outras novas criadas e fiscalizadas, até mesmo para que o Mato Grosso não avance com suas plantações agroindustriais. Porém, o que é necessário e imprescindível em tempos de obtenção de novas formas de energia, onde um barril de petróleo sai pela bagatela de cerca de US$ 150, é observar a que preço o aspecto humano fica ou não manco na tríade da sustentabilidade.

Afinal, toda essa preocupação deveria ter, em sua essência, o cuidado com as futuras gerações, ou seja, com os seres-humanos. Esquecer deles é como esquecer de si próprio. Portanto, para uma verdadeira sustentabilidade, os mancos que se cuidem.

Katerina Volcov é especialista em desenvolvimento de projetos de comunicação voltados à responsabilidade social.

Um comentário:

Unknown disse...

Caros amigos, é muito lindo tudo isso que falamos sobre desenvolvimento sustentável, mas infelizmente a realidade em que vivemos não da conta de integralizar nossa sociedade com o meio ambiente. A vida capitalista é muito degradante ao nosso ecossistema e por mais que percebemos isto, o ciclo continua. O grande capitalista não irá de deixar de andar em seu carro de luxo, para atender as necessidades ecológicas do planeta, eu e vocês não iremos para a aula na universidade de bicileta porque nossos veículos e ônibus poluem, ninguém criado dentro de um sistema extremamente capitalista como eu fui irá abandonar seus sonhos consumistas em busca de compartilhar um mundo melhor com uma sociedade comodista que não merece uma gota de suor, a não ser seu sangue derramado de tanto trabalho para deixar os ricos cada vez mais ricos e assim a vida continua. Eu desisto desse povo brasileiro sem "NAÇÃO"! NInguém gosta do própio país, vivem-se em interesse próprio. Desculpem meu ponto de vista, mas chega um ponto que a gente se entrega e como canta o grande Zeca Pagodinho: "Deixa a vida me levar, vida leva eu!"
Grato pela oportunidade e parabéns por esta idéia companheiro.